NO PASSADO
As primeiras referências documentais às águas de Aregos vêm-nos da Idade Média, de tempos anteriores à nossa nacionalidade.
Em 21 de Maio de 1102, duas irmãs (Ausenda e Simeona), doaram ao Mosteiro de Pendorada, duas terras em Aregos, "ao pé das águas cálidas, junto do Douro, ao fundo do monte Gerôncio". (1)
No século XII, D. Mafalda criou aqui uma albergaria para cura de "lázaros" e "gafos". Prova do facto é que ainda hoje há no lugar uma fonte chamada "da Albergaria".
O nome de Caldas (= quentes) foi muito bem aplicado pelos romanos que tanto apreço davam aos banhos, já que a água se vê cair em Aregos, em fontes abundantes e a fumegar. Até nos lavadouros públicos a água cai bem quente e as mulheres do lugar, talvez sem pensarem nisso, são umas privilegiadas, porque nos dias mais gelados do Inverno, lavam ali as roupas da família sem lhes custar nada. Na água que cai dos fontanários, vê-se claramente desprender-se um milagroso vapor e subir, como fumo de incenso, pelos abençoados ares de Aregos.
As águas jorram ali a uma temperatura próxima dos 60 graus centígrados.
" Em Aregos dão-se proveitosamente banhos, em casa para tal designada. É porém custoso o remédio, por ser necessário andar com a água às costas nos dias de banhos. " (2)
As águas continuavam a bolhar com abundância e qualidade e a oferecer-se generosamente para curar todos, ou quase todos os males: dermatoses, reumatismos crónicos e agudos, artrites, ciática, encefalites, nevroses, sífilis, hemorragias cerebrais, perturbações de circulação, flebites, eczemas, alergias, asmas, bronquites, sinusites, rinites, faringites, laringites, amigdalites, etc...
Não era precisa publicidade. Os doentes que ali vinham a tratamentos, encarregavam-se depois de chamar os outros, fazendo chegar a toda a parte a fama destas águas milagrosas.
" O nome das Caldas de Aregos nasceu de factos comprovados, de casos de curas incontestáveis e frequentes. " (3)
O grande problema é que não havia, nem instalações condignas, nem apoio técnico, nem organização conveniente.
" Cada nascente tinha o seu possuidor e cada qual, o melhor que podia e sabia, explorava os seus balneários rudimentares, enaltecendo as suas virtudes curativas. " (3)
Devido ao aparecimento das Caldas de Moledo (que estavam a surgir e a tornar-se conhecidas), foi tal a concorrência às das Caldas de Aregos que estas ficaram quase ao abandono. " Estes banhos...hoje são apenas albergues que convém não descrever. Pertencem aos povos do concelho e esta circunstância, juntamente com a falta de comunicação e a proximidade das Caldas de Moledo, explicam os poucos cuidados que esta estação termal tem merecido. " (4)
Na mesma época, surgia a primeira tentativa de salvar as Caldas: " O actual Abade de Miomães, M. Alexandre Pinto da Costa e o senhor José Pinto da Silva, da Penajóia, para quem os senhores Serpa Pinto transferiram os seus direitos, têm feito alguns melhoramentos nas Caldas de Aregos... Têm já bastantes tinas, algumas casas para banhistas, lojas de peso, e uma farmácia. Se houvesse uma estrada ao longo da margem esquerda do Douro, outra seria a sorte destas Caldas, porque as águas são abundantes e eficacíssimas para a cura de várias moléstias. " (5)
SÉCULO XX
Em 1910, dois homens ilustres, José Mendes Guerra e António Pinto Ribeiro, ambos curados pelo uso destas águas maravilhosas, que se lançaram de alma e coração à tarefa de modernizar as Caldas e de lhes dar as estruturas indispensáveis a uma estância balnear condigna.
Foi feita a captação eficiente das águas, montaram-se novos balneários, construiu-se o Hotel Parque e arranjou-se um lindo parque, a rodear o hotel. Entretanto, a Primeira Grande Guerra (1914-1918) impediu que diversos materiais chegassem do estrangeiro e prejudicou gravemente os planos daqueles dois ilustres homens.
" Esta estância é de fácil acesso pois que é servida pelo caminho de ferro. Na estação de Aregos, para todos os comboios ascendentes. Da estação à estância o trajecto é relativamente curto, fazendo-se facilmente a pé ou em cadeirinhas apropriadas. Tem estação de correio e telégrafo. Além do Hotel Parque, propriedade da Empresa e que pode comportar 100 hóspedes, outros hóteis existem, bem como grande número de casas particulares que recebem doentes, e ainda, casas para alugar durante a estadia. " (6)
A partir de 1915 o uso das águas, nas suas aplicações internas e externas, passou a ser controlado por um médico assistente.
A estância tornara-se propriedade da Companhia das Águas de Aregos, por alvará de 16 de Junho de 1923.
Na década de 20, aparecera de novo em Aregos um grande homem - Manuel Monteiro, natural de Minhães, vindo do Porto e tinha grande experiência e não menor vontade de trabalhar. Começou com a exploração do Hotel Parque e, mais tarde, com a do Balneário. Foi adquirindo as acções da Companhia das Águas e, em 1938, já era o maior accionista.
Entretanto já tinha chegado a Aregos a estrada nacional (1929 ?) e a luz eléctrica da barragem de Freigil (1928) pelo dinamismo de Rebelo Moniz e, nessas condições, as Termas começaram a ressurgir. Para satisfazer as necessidades e a procura que cresciam a olhos vistos, foi ainda Manuel Monteiro que fundou o Hotel Portugal e a Pensão Palace.
Em 1943 chegou a Aregos outro homem que não pode ser esquecido - Manuel Pinto Espanhol. Este senhor empenhou-se a sério no desenvolvimento das termas e, dois anos depois, lançou-se na construção dos Novos Balneários, que ficaram prontos em 1946, com todas as condições que existiam no tempo nas melhores estâncias termais do país e até da Península. Dizia-se até que era uma das melhores da Europa.
A dar apoio às Termas, havia então as Pensões Ilídio, Avenida, Comércio e Central, e os Hotéis Costa, Parque e Portugal. Não faltavam os transportes (de comboio e de carreira) para Aregos, de acordo com as exigências do tempo.
Aregos teve nessa altura, a sua "idade do ouro". Chegavam a inscrever-se para cima de 2.000 banhistas por época (Junho a Outubro). E assim se mantiveram as coisas até à década de 60.
A 3 de Janeiro de 1962, chegou a primeira ameaça, com maus presságios. Acontecimento mais ou menos frequente e cíclico, o Douro teve uma grande enchente em 1962 e outra, quatro anos depois, em 21 de Fevereiro. Esta última sobretudo, abafou o Parque, o hotel e o balneário, ficando fora das águas do rio, apenas o telhado.
Mas o pior estava para vir. Construída a barragem do Carrapatelo, encheu-se a albufeira quase ao nível dos balneários e, no Inverno de 70/71, as águas do rio, agora presas na barragem, subiram tanto que inundaram tudo. Para evitar coisas piores, deitou-se então abaixo o parque, construindo-se nele uma piscina, e levantando-se um muro de betão a suster o rio. Mas outras desgraças iriam acontecer.
No Inverno de 1979, em 14 de Fevereiro, houve um grande aluimento de terras no lugar de Atião: o alago veio pela encosta abaixo, entrou no ribeiro da Cesta e, ao chegar ao cimo da Avenida das Tílias, entulhou todo o canal que conduzia para o rio as águas do ribeiro, inundando e destruindo toda a zona central de Aregos: os balneários ficaram inundados e todas as instalações cheias de lodo. Era o fim.
Fez-se limpeza das instalações dos balneários e os serviços ainda continuaram por algum tempo, mas as condições eram tão precárias que a Direcção Geral de Minas tirou a concessão à Companhia das Águas de Caldas de Aregos, e abriu concurso para que novos interessados pudessem investir nas Caldas.
Em 2.º concurso (no 1.º ninguém se mostrou interessado) a Direcção-Geral de Energia e Minas, por despacho do Secretário de Estado da Energia de 1 de Julho de 1984, entregou a concessão à empresa FAMISA - Aglomerados de Madeira F. Mil Homens S.A.R.L., sediada em Leça da Palmeira, com as obrigações seguintes:
- Apresentar, até 11 de Julho do ano seguinte, o projecto de um conjunto termal, com capacidade imediata para atender 3.000 doentes anuais e 6.000 a longo prazo;
- Apresentar até 11 de Julho de 1986, o projecto de um estabelecimento hoteleiro, com um mínimo de 60 quartos, e o projecto de um restaurante e "self-service" com um mínimo de 60 a 100 lugares sentados, respectivamente;
- Iniciar as obras a que ficava obrigada, no prazo de 6 meses, a partir da aprovação dos respectivos projectos.
A concessão impunha ainda à FAMISA a execução de um conjunto de piscinas, bar e esplanada, a edificação de um muro-cais com um mínimo de 110 metros, e o aproveitamento da Villa Nazaré, com a construção de campos de ténis, badmington, voleibol, basquetebol, golf, etc...tudo isto em função do ritmo de crescimento da actividade das termas.
De notar que esta firma já era antes proprietária da Companhia das Águas de Aregos, mas apareceu no concurso com o nome de FAMISA.
O prazo foi sucessivamente prorrogado, com enorme desespero da população das Caldas, e enorme prejuízo para o concelho inteiro e para multidões de doentes, que não podem encontrar a saúde de que tanto precisavam.
Em Fevereiro de 1993, estavam prontos os novos Balneários e anunciada a construção do Hotel.
(1) DOCUMENTOS MEDIEVAIS PORTUGUESES - Tomo IV n.º 74.
(2) MAGALHÃES, Jaime de - As Águas Termais das Caldas de Aregos - 1954.
(3) PINTO, Victor Macedo - As Águas de Caldas de Aregos e a sua Estância - 1917.
(4) ORTIGÃO, Ramalho - Banhos de Caldas e Águas Minerais (citado por Caetano Pinto, in Monografia de Resende, pág. 259).
(5) LEAL, Pinho - Portugal antigo e Moderno, Vol. V, pág. 345.
(6) PINTO, Victor Macedo - Obra Citada, pág. 32.